De acordo com os Censos de 2011, a população portuguesa com mais de 65 anos ultrapassa já os dois milhões de pessoas, sendo 19% do total. Estima-se que, em 2050, atinja os 32%. Isto significa, à semelhança do que se prevê para outros países do sul da Europa, que um/a em cada três cidadãos/ãs terá idade superior a 65 anos. As mulheres idosas portuguesas representam actualmente cerca de 68% do total da população idosa. Com a idade, as mulheres idosas e os homens idosos sofrem múltiplas perdas, enfrentando preconceitos e estereótipos, mas contando com recursos diferentes para enfrentar esses mesmos preconceitos e estereótipos de que são alvo. No campo da saúde regista-se uma diferenciação dos tipos de doença que mais afectam homens e mulheres. Diabetes, enfartes miocárdios, bronquite crónica ou insuficência renal afectam maioritariamente os homens. No caso da população feminina acrescem outros riscos de saúde como as doenças reumáticas, osteoporose, depressões e ansiedade crónica. De notar, ainda, que a mobilidade desta população e a sua autonomia vêem-se tendencialmente reduzidas, por um estilo de vida fisicamente menos activo e socialmente mais isolado. O analfabetismo, a baixa escolaridade e a curta ou mesmo inexistente actividade profissional das mulheres idosas ao longo da vida, conduziu inevitavelmente para uma maior feminização da pobreza traduzida nas reformas e pensões baixas auferidas. De referir, ainda, que a taxa de risco de pobreza e/ou exclusão social para a população portuguesa idosa situa-se, hoje, nos 26,1%. Menores rendimentos, situações de crise social e familiar, doenças e fragilidades inerentes à idade, bem como, a perpetuação de papéis de género subjacentes na sociedade patriarcal colocam a população feminina idosa em situação de particular isolamento e vulnerabilidade. Dados do Estudo Género e Envelhecimento (2011) revelam que cerca de 4 em cada 10 mulheres com 60 anos ou mais afirmaram ter sido vítimas de violência nos doze meses anteriores ao momento de inquirição. As principais formas de violência identificadas foram: a violência psicológica, abuso e exploração financeira, violação dos direitos pessoais e negligência, o abuso sexual e a violência física. Perante o anteriormente exposto revela-se, assim, imprescindível que a análise sobre o fenómeno do envelhecimento seja feita segundo uma perspectiva de género com todas as características a si associado.